segunda-feira, 7 de março de 2016

Doença renal: a prevenção deve começar na infância


Em 10 de março será comemorado o Dia Mundial do Rim. Atividades em todo o país serão realizadas em espaços públicos a fim de chamar a atenção da população para uma doença grave, que triplicou o número de pacientes nos últimos 20 anos.
Na edição deste ano da campanha, a 11ª, o tema abordado será: “A prevenção da doença renal começa na infância.” É mais raro que crianças desenvolvam doença renal, mas, quando ocorre, o quadro é substancialmente mais complexo, o tratamento mais caro e com resultados devastadores do ponto de vista dos danos causados sobretudo ao desenvolvimento físico.
Várias questões se impõem ao tratamento da nefropatia pediátrica que merecem cuidados indispensáveis também aos adultos. Entre elas, a anemia que quase sempre é mais grave em crianças; o crescimento físico que é bastante afetado; a administração do tratamento que pede vigilância com relação à osteodistrofia renal. Todos esses problemas podem ser evitados e/ou minimizados com terapias associadas.
Estimular as nossas crianças a praticar atividades físicas, recusar guloseimas cheias de gordura e açúcares e a beber bastante água são tarefas práticas que vão redundar em bons hábitos que as acompanharão na idade adulta. Por enquanto, ainda há muito mais ações repressivas do que preventivas. No Brasil, a nefropatia é em grande parte subdiagnosticada, seja em adultos ou em crianças. Apenas 7% dos municípios brasileiros dispõem de serviços de Terapia Renal Substitutiva ­ clínicas de hemodiálise e suporte e assistência à diálise peritoneal. O censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia registra que há 110 mil pessoas em hemodiálise no país. Deste contingente, 80% realizam o tratamento em clínicas credenciadas pelo SUS.
Estima-­se que existam no Brasil cerca de dez milhões de pessoas acometidas por doença renal em algum grau do estagiamento da enfermidade. Este fato reforça a necessidade de se estabelecer serviços de prevenção, particularmente porque a doença renal crônica em adultos está ligada à hipertensão e diabetes. Ambas, por sua vez, ligadas à obesidade. Cerca de 17% da população brasileira têm obesidade e 50% têm sobrepeso. Com a expectativa de vida cada vez maior, esses problemas tendem a se tornar mais duradouros e seu combate, mais complexo.
A hipertensão e a diabetes são a causa de 60% do diagnóstico da nefropatia. Por volta de 30% da população adulta no Brasil têm hipertensão, fato que se agrava com a idade quando esse índice pode chegar a 50%. Com o diabetes, a situação não é melhor. Mais de 10% dos adultos em nosso país têm essa doença e podem apresentar a perda da função renal (nefropatia diabética), além de complicações cardiovasculares.
A face mais perversa da nefropatia é que uma pessoa pode perder até 90% da função dos rins sem sentir qualquer sintoma. Esta característica da doença sobrecarrega o sistema de saúde com quadros de emergências na assistência pública. O início da terapia renal substitutiva de forma abrupta favorece complicações clínicas importantes em função do atendimento emergencial de hemodiálise e o acesso por meio de um cateter, que deve ser temporário ou usado em condições quando o paciente não tem acesso por meio da fístula arteriovenosa.
Ressalte­-se que o país tem profissionais altamente capacitados nesta especialidade médica, mas urge que todos os atores envolvidos, em particular o gestor público, atentem para as prementes necessidades de clínicas, dos profissionais e, acima de tudo, dos pacientes em todo o território nacional que dependem dos serviços públicos. São sobre essas questões que a temática do próximo artigo será desenvolvida.
Para maiores informações acerca do “Dia Mundial do Rim”, acessem o site da Sociedade Brasileira de Nefrologia (www.sbn.org.br).
Natalino Salgado Filho Doutor em Nefrologia,EX­reitor da UFMA, membro do IHGM, da AMM, AMC e AML

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