domingo, 4 de setembro de 2016

COLUNA DO SARNEY: A hora e a vez dos vices


Por José Sarney
Mais uma vez na história do Brasil um vice-presidente assume a Presidência da República. Quem abriu a contagem foi o marechal Floriano Peixoto, que se desentendeu com o marechal Deodoro da Fonseca, provocando uma séria divisão nas Forças Aramadas, responsáveis pela derrubada do Império e pela implantação do regime republicano. Essa briga foi alimentada também com a divergência entre o presidente da República e o presidente da Câmara dos Deputados, Prudente de Morais. Deodoro era um homem colérico, de rompantes, e disso beneficiaram-se os republicanos. Ele fechou a Câmara, depois teve de reabri-la, mas renunciou à Presidência. Ficou tão indignado com seus colegas que mandou colocar o seu uniforme numa lata, soldá-la e jogar no mar, determinando que fosse enterrado com roupa civil.
Floriano foi o Marechal de Ferro, governou com dureza, mas atribui-se a ele ter consolidado a República.
O segundo foi Nilo Peçanha, que completou o mandato de Afonso Pena. Nilo Peçanha era um grande chefe político do Estado do Rio, hábil e de bom temperamento, mas excessivamente atraído pela politicagem provinciana que o levou a fazer sucessivas intervenções nos estados.
O terceiro foi Delfim Moreira, que substituiu Rodrigues Alves, vítima da gripe espanhola. Mas não teve tempo de governar muito. Tinha como regente – era o que se dizia – Afrânio de Melo Franco, grande expressão da política mineira. Delfim Moreira não teve como governar. Já estava vitimado por doença mental que o impedia de exercer o cargo. Foi eleito para sucedê-lo Artur Bernardes, que tinha como vice o nosso grande conterrâneo Urbano Santos da Costa Araújo.
O quarto foi Café Filho, vice de Getúlio Vargas que, com o suicídio deste, assumiu a Presidência. Também, na onda de instabilidade da política brasileira, foi deposto pelas Forças Armadas, comprometidas com Juscelino, que fora eleito em 1955 – Café era acusado de estar envolvido numa conspiração para não dar posse a Juscelino Kubitschek.
O quinto foi Jango, João Goulart, que assumiu na renúncia de Jânio Quadros. Fez um governo conturbado. Sua posse foi difícil e para ser aceito como presidente engoliu um transitório e capenga regime parlamentarista.
Anote-se também que tivemos um vice que foi impedido de tomar posse pelas Forças Armadas, Pedro Aleixo, que devia substituir Costa e Silva.
O sexto fui eu, com a morte de Tancredo. Só eu sei o que é um vice assumir sem saber nada sobre os programas do presidente que se foi e cercado sempre por insegurança e crises.
O sétimo foi Itamar Franco, no impeachment de Fernando Collor. Era um homem sério, correto, que teve a oportunidade de fazer o Plano Real – seguindo o caminho aberto pelo Cruzado – e derrubar a inflação.
O oitavo vice é agora o Michel Temer. Penso o que deve estar na sua cabeça, mas os problemas que herda são quase insolúveis e precisam de longo prazo para serem resolvidos. Somos todos testemunhas destes tempos difíceis e das incertezas que existem. Porém ele é um homem experiente, sensato e com domínio da arte da política.
Mas relacionei todos estes fatos para dizer que agora ficou provada e testada nossa democracia, nossas instituições, que funcionaram na harmonia constitucional, com ampla liberdade, o povo tendo uma participação efetiva. O comportamento das Forças Armadas foi impecável, assegurando a sustentação das instituições.
Fico feliz pelo que me toca, pois fui o responsável pela transição democrática, assegurando a realização de uma Assembleia Constituinte e a promulgação de uma nova Constituição, que assegurou direitos sociais e mostrou-se capaz de colocar-nos entre as grandes democracias do mundo.

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