Por Natalino Salgado Filho*
“Se te fatigas correndo com homens
que vão a pé, como poderás competir com cavalos?” A partir dessa pergunta feita
por Deus, por meio do profeta Jeremias (12:5), é possível uma série de
inferências, entre elas, que há uma medida para a capacidade de todo enfrentamento.
Volto a atenção, em especial, para os profissionais da área da saúde que atuam
no HUUFMA. Frágeis diante da perversidade da praga – que desconhece fronteiras,
sejam físicas, sejam sociais – arriscam todos os dias suas vidas num cenário de
vulnerabilidade, onde ainda não existe remédio específico e vacina.
É verdade que, diante das batalhas,
revelam-se os heróis, e os bravos são testados. E, se há uma instituição neste
Estado que mostrou ainda mais sua vocação para a grandeza e seu chamado para o
bom serviço, esta instituição, uma das referências científicas em todo o
Norte-Nordeste, atende pelo nome de
Complexo Hospitalar - Hospital Universitário da Universidade Federal do
Maranhão - HUUFMA, dono de uma rica história de serviço ao povo do Maranhão e a
outros Estados.
Uma breve digressão: o prédio foi
construído nos anos 1950 e se confunde com a história da criação do Curso de
Medicina da UFMA. Em 1991, foi incorporado à Universidade Federal e passou a
ser um campo de pesquisa, de formação de profissionais e, desde a graduação, de
quase duas dezenas de residências médicas. O primeiro paciente curado no HUUFMA
foi justamente um residente de Medicina que, após sete dias na UTI, lembrou-se,
na saída, de fazer um discurso de gratidão e expressar sua crença de que
conseguiria vencer a batalha, pelo excelente trabalho de seus pares, sob a
ajuda de Deus.
Entretanto, em quase quarenta anos de
bons serviços, o HUUFMA ainda não havia sido provado em nível tão desafiador
como nesta Pandemia que a Covid-19 lhe impôs. Temos sido testados de maneira
que jamais teríamos pensado, exceto pelas histórias que lemos ou pelos filmes a
que assistimos sobre sociedades distópicas. A situação é grave e desperta
preocupação diária. Mas não estamos inertes: muitos cientistas, trancados em
seus laboratórios, estão dedicados, horas a fio, a conseguir uma resposta
eficaz. Já são contabilizados, mundo afora, cerca de 2.600 trabalhos
publicados. Sim, não há cura física porque ainda não há remédio possível, mas
temos o poder de fazer com que alma e mente não adoeçam.
Nessas semanas de quarentena,
profissionais de todas as áreas que atuam no HUUFMA têm se mostrado verdadeiros
gigantes no combate à peste que assola por todos os lados. Desde o gesto
simples e carinhoso – como as palavras de conforto e superação escritas nas
embalagens de alimentação que são destinadas aos pacientes com Covid-19 à
grande rede de solidariedade que se formou em torno da fabricação de EPIS´s -
numa parceria, entre diversos departamentos e cursos da UFMA, com a Secretaria
Estadual da Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI). Merece calorosos aplausos,
o esforço hercúleo de todas as equipes que, incansavelmente, trabalham para
auxiliar os pacientes infectados, proporcionando conforto, zelo e meios de cura.
Guimarães Rosa diz em seu romance
Grande Sertão Veredas que qualquer amor já é um pouquinho de saúde. Eu acredito
que cada um destes profissionais adjetiva seu dia a dia não apenas com a
responsabilidade, mas com o cuidado amoroso, a atenção esperançosa. No ambiente
do amor, temos a possibilidade de deixar vicejar o otimismo. Acredito que ser
otimista não é sonhar tolamente sem trabalhar e esforçar-se, mas acreditar que
tudo isso dará fruto. O pai da psicologia americana, William James, dizia que
otimismo é como a saúde da alma. Concordo.
Nunca uma doença despertou tanto
medo, incerteza e insegurança. Mas somos as pessoas certas para este tempo. Em
destaque, aqui, os profissionais que atuam no HUUFMA. Mais do que correr, eles voam.
Agradecendo, também, a todos os profissionais de saúde que estão no front
dessa guerra da Covid-19 no nosso imenso Brasil, irmano-me com cada homem e
cada mulher que sabe de sua vocação e chamado e enseja coragem e destemor
diante de nosso inimigo. Com certeza, não se fatigariam correndo com homens que
vão a pé e estariam prontos para competir com aqueles que vão a cavalo, sim.
Porque é de gigante a medida que têm demonstrado para o enfrentamento desta
pandemia.
*Reitor da Universidade Federal do Maranhão - UFMA