A política maranhense vive mais um episódio polêmico, desta vez protagonizado por Ivan Júnior (União Brasil). O vereador, que não conseguiu se eleger nas eleições municipais de São Luís em 2024, com apenas 1.967 votos, está prestes a assumir um cargo de deputado federal em janeiro de 2025. Essa movimentação nas cadeiras do legislativo nacional, embora esteja dentro das regras do sistema político brasileiro, suscita uma série de questionamentos sobre a representatividade eleitoral e a transparência das práticas políticas.
Ivan Júnior, que ocupará a vaga aberta na Câmara dos Deputados após a eleição de Dr. Benjamin para prefeito de Açailândia, é o segundo suplente do União Brasil. Em 2022, o partido elegeu dois deputados federais: Pedro Lucas Fernandes e Juscelino Filho, que mais tarde assumiu um cargo no Ministério das Comunicações no governo Lula. Essa nomeação abriu espaço para a entrada de suplentes, e Ivan Júnior, com 6.647 votos em todo o estado, garantiu sua posição como segundo na lista de suplência.
Embora a suplência seja uma prática prevista na legislação, a trajetória de Ivan Júnior até o Congresso Nacional tem sido alvo de críticas, principalmente pelo fato de sua votação ser considerada baixa, tanto nas eleições municipais quanto nas eleições federais anteriores. Para muitos, sua ascensão ao cargo de deputado federal é vista como uma desconexão entre o desejo popular e as regras de ocupação de cadeiras legislativas, uma vez que os votos obtidos nas urnas não refletem um apoio expressivo da população maranhense.
A questão da representatividade de Ivan Júnior é particularmente sensível num momento de mudanças no legislativo maranhense, com várias trocas de cadeiras na Assembleia Legislativa. Além da transição de Ivan para Brasília, novos parlamentares assumirão cargos na Assembleia após a eleição de figuras como Roberto Costa, Rafael e Juscelino Marreca para prefeituras. A substituição desses políticos, somada a outras vagas ainda pendentes de decisões judiciais, como as de Hemetério Weba e Fernando Braide, cria um ambiente de incertezas e instabilidade no cenário político do estado.
Além das críticas sobre sua falta de representatividade eleitoral, Ivan Júnior também enfrenta questões mais sérias em relação à sua gestão à frente da Associação Comunitária Itaqui-Bacanga (ACIB). Denúncias sobre irregularidades administrativas, incluindo a falta de prestação de contas e o uso indevido de recursos destinados a projetos da entidade, pesam contra ele. Há acusações de que contratos com empresas terceirizadas foram firmados de maneira suspeita, além do uso de notas fiscais consideradas duvidosas.
Essas denúncias, embora ainda não totalmente esclarecidas, geram um ambiente de desconfiança sobre a idoneidade de Ivan Júnior para assumir um cargo de tamanha responsabilidade como o de deputado federal. A transparência na gestão de recursos e a prestação de contas são requisitos essenciais para qualquer figura pública, e as suspeitas sobre o uso inadequado de verbas na ACIB podem afetar ainda mais a percepção negativa sobre sua chegada ao Congresso Nacional.
A ascensão de Ivan Júnior ao Congresso, sem uma votação significativa que legitimasse seu mandato, reforça a necessidade de uma revisão nas regras de suplência e nos critérios para ocupação de cargos eletivos. Esse tipo de situação, em que um político assume uma cadeira no Congresso sem o respaldo direto dos eleitores, pode enfraquecer a confiança popular no processo democrático e nas instituições.
Para muitos, o caso de Ivan Júnior é mais um exemplo de como as articulações políticas de bastidores podem se sobrepor ao desejo expresso nas urnas. A prática de suplência, que permite que políticos derrotados acabem assumindo cargos por conta de mudanças no quadro legislativo, é vista por críticos como um desrespeito à vontade popular e uma demonstração das falhas do sistema político brasileiro.
O episódio envolvendo Ivan Júnior não é um caso isolado, mas um reflexo das complexas articulações que moldam o poder legislativo no Brasil. A ausência de uma votação expressiva e as suspeitas que pairam sobre sua gestão anterior sugerem uma urgência em reformar o sistema de suplência e garantir uma maior coerência entre os votos dos eleitores e a ocupação de cargos públicos.
O processo de sua ascensão ao Congresso, em um cenário repleto de dúvidas e incertezas, deve ser um ponto de partida para um debate mais amplo sobre as reformas necessárias para tornar o sistema político brasileiro mais transparente e representativo. A população de São Luís e do Maranhão como um todo merece que a voz das urnas tenha um peso maior na definição de seus representantes, evitando que decisões de bastidores decidam o futuro do legislativo.
Ivan Júnior assume um mandato temporário até abril de 2026, mas a repercussão de sua chegada ao Congresso promete ecoar por muito tempo, estimulando discussões sobre o que é preciso mudar para que a vontade popular seja de fato respeitada nas esferas de poder. E as respostas a essas questões, certamente, definirão os rumos da política maranhense nos próximos anos.
Fonte: Blog A Capital SLZ